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Sentei-me confortavelmente, vesti as luvas e então com todo o carinho do mundo repousei o velho livro de ocorrências policiais sob uma das mesas do Arquivo Nacional. Lá estava eu em mais uma etapa da minha monografia, cansado, pressionado, mas ainda com milhões de ideias na cabeça. E neste cenário tão apreciado por nós historiadores, tive contato com uma das micro-histórias mais impactantes da minha carreira: o caso verídico de Rosa.



O ano era 1894, quando ainda vivíamos os últimos anos do período monárquico pós escravista, e o local nada menos que a própria capital do país: a cidade do Rio de Janeiro, que já naquela época misturava a riqueza dos palacetes com a miséria dos cortiços e o início da ocupação dos morros, que mais tarde tornaram-se favelas. E foi exatamente numa dessas localidades, conhecida como Engenho Velho, que residia a jovem Rosa e tem início o nosso caso.

Segundo os autos, Rosa fora abandonada pelos pais ainda criança quando estes perceberam que a menina era surda e muda. Foi então criada pelos tios, contudo não com o amor e o carinho necessários para uma boa formação, mas sim como uma escrava, fazendo todos os afazeres domésticos e outras funções diárias.

Os depoimentos colhidos mostram que Rosa era constantemente agredida pelos tios por qualquer bobagem, sendo inclusive humilhada em via pública. A violência fazia parte do cotidiano de vida da pobre menina.

Numa sociedade extremamente machista do final do século XIX, casos como o da Rosa eram comuns e não havia nenhum mecanismo eficiente que protegesse de alguma maneira essas moças. No entanto, a situação dela era ainda pior, pois não conseguia defender-se plenamente, gritar por socorro, pedir ajuda...

Com o tempo e percebendo a impunidade, o tio passou a abusar sexualmente de Rosa, que em seu pequeno mundo, pois mal saia de casa, pouco podia fazer. No entanto, as investidas desse tio começaram a ocorrer em pleno "quintal" e assim muito próximo dos vizinhos que acabaram por denunciar a prática violenta do casal.

Ao ser acionada a diligência, ocorreu um flagrante em plena luz do dia. Rosa, os tios e algumas testemunhas foram escoltadas até a delegacia que cobria a região. Em resumo, o agressor enfim foi preso por atentado violento ao pudor e a tia sofreu algumas punições por cárcere privado, entre outras medidas. Rosa foi destinada a um abrigo até que completasse a maioridade.

Os autos, obviamente, não relatam como foi o desenrolar da vida de Rosa, no entanto notem como esse tema ocorrido no final do século XIX ainda é extremamente atual! Posto que ainda vivemos numa sociedade, apesar de toda a informação e tecnologia, machista e cruel para com as mulheres. Onde muitas sofrem caladas nos próprios lares!

Se não fosse a atitude tardia dos vizinhos denunciando o tal tio talvez o destino de Rosa seria a morte, assim como ocorre com frequência em nosso tempo. Felizmente hoje temos alguns mecanismos de defesa! Denuncie os maus tratos contra a mulher ligando anonimamente através do número 180 e evite que mais Rosas sejam violentadas em nosso país. Que o caso sirva sim de exemplo!

Uma micro-história de 1894 servindo de referência para uma macro realidade de 2017!


Após a segunda fase da Revolução Industrial (1860 - 1900), o mundo passou a colecionar progressos de toda ordem até os nossos dias! Progressos que não só mudaram as estruturas de produção, mas alteraram radicalmente a forma de viver e se relacionar com o mundo. Novas ciências surgiram, novas evidências apareceram, as informações viajam e circulam em velocidades extremas, mas e a história enquanto ciência social?


A história ainda não despertou para os novos tempos! Continua ali engessada, presa ao velho método, por isso não consegue responder satisfatoriamente as questões mais básicas! Não tem a devida coragem para romper com esse esquema falido e fundar um novo paradigma. Se perde em meio a própria burocracia e detalhes obscuros, quando deveria investigar sem medo e utilizar como ferramenta tudo o que hoje temos a nossa disposição.

 É inconcebível acreditar na historiografia tradicional quando a mesma insiste por exemplo:
                                               
                       ↪ na falácia do povoamento do continente americano.
                       ↪ nos erros grosseiros e falta de conexão das grandes navegações e os descobrimentos.
                       ↪ no absurdo processo de construção das pirâmides do Egito.
                       ↪ em como se deu a Revolução Constitucionalista de 1932 (SP).
                       ↪ Etc.

Poderia citar muitos outros exemplos, os quais pretendo tratar com mais calma nos meus futuros artigos aqui na Artemis Histórica, mas este serve como um pequeno ponto de reflexão no momento. Posto que precisamos o quanto antes reinventar a história antes que a mesma caia num limbo de frustração e perda de credibilidade, não só entre todos os profissionais, mas inclusive alunos e estudiosos de uma forma geral.